Eu adoro mergulhar intensamente em tudo que faço. Assim que decidi escrever sobre Sevilha, passei a escutar somente música Flamenca. Eu acabei de rebolar na cadeira. Eu estava diante do computador fazendo de conta que eu tinha castanholas nas mãos. Viajo facilmente na maionesa!
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Kiosco de las flores e caças rumo ao Norte da Africa
Na manha do
quinto dia, retomamos os nossos passeios. Andamos um bocado até bater do outro
lado do rio Guadalquivir. Após chegar à movimentada Plaza de Cuba, percorremos
a Calle Betis e fomos passeando calmamente no aprazível bairro chamado Triana.
Ao meio
dia, fomos atrás de um lugar para almoçar. Eu já o tinha escolhi na véspera. Trata
se do Kiosco de las flores. O lugar, feito de tijolos pintados com tinta
branca, é bem rústico. Fazendo sol, preferi sentar do lado de fora. As
especialidades da casa: frutos do mar e peixes fritos. Pedimos ova de
peixe, lula e uns pimentões vermelhos refogados no azeite. O quiosque anda bem protegido, aqui também tem uma santa protetora de azulejos!
Procurando
pelo toalete para lavar as mãos, acabei conversando um pouquinho com a dona do
estabelecimento. É uma típica espanhola de meia idade. É corpulenta e ostenta
um crucifixo no peito. Já falei que o espanhol é muito família. A prova esta
bem aqui nas paredes deste bar. Há fotos de parentes em preto e branco por toda
parte. Numas, podemos ver aquela senhora quando era mais jovem e mais formosa. Avisto
umas mais recentes e coloridas representando uns meninos. Pergunto quem são, então
a orgulhosa abuela responde que são os seus netos! Pensando bem, eu também sou
meio espanhola. Sou volumosa, devota de Nossa Senhora e ando com a foto da neta
na carteira!
Voltando
até a mesa, noto que o jardim é protegido por outro santo. Deu-me vontade de
comprar alguma imagem religiosa de grande tamanho para ornamentar a minha casa.
O meu marido vetou. Só trouxe uma cruz e uma mini pia de água benta, ambas de cerâmica
colorida. Elas estão pregadas na parede “santificada” que fica perto da entrada
do meu quarto. É onde acumulo todas as santas que encontro nas minhas andanças.
Aqui um lugar para
tomar um solzinho e admirar a paisagem enquanto os pratos não chegam. Em
frente da gente, do outro lado do rio, esta a famosa Torre Del Oro (primeira foto deste post). A origem do
nome da torre se deve ao fato que antigamente era coberta por azulejos dourados. Hoje é
o museu naval, mas antes era depósito das riquezas trazidas do Novo Mundo, ou
melhor, dizer, das “Índias”. A serenidade do lugar só foi perturbada quando vários
caças sobrevoaram o céu. Pela posição do rio e da torre, calculamos que eles estavam
indo para o sudoeste e deduzimos que podia ser em direção da Líbia. Enfim, os
conflitos continuam. O mundo cristão em guerra com o mundo islâmico. Sempre
existiu e sempre haverá. Infelizmente...
Depois do
almoço, eu queria visitar a igreja Santa Ana, mas infelizmente ela estava
fechada. Voltei mais tarde, mas comentarei depois. Sobre o fechamento de modo
geral, tem que tomar muito cuidado porque muitos lugares fecham na hora da
siesta (entre as 14:00 e 17:00).
De toda
maneira, mesmo estando fechada, dei umas voltas em torno da igreja para tirar
fotos das suas belas santas. Não havia viva alma nas ruas nesta hora do dia. E
olhem que era primavera, fazia um friozinho de leve, algo bem gostoso, mesmo o sol
estando brilhando. Imaginei como deviam se comportar os habitantes durante o verão. Falando nisso, vi algo curioso em algumas janelas, não em todas.
Havia um tipo de esteira de palha enrolada acima das janelas e que deve ser usada para fazer sombra. Formava um enorme
rolo grosseiro, algo quase desgracioso, algo bem rústico e em contraste com a fachada
coberta por refinados azulejos. Não vi isso em todas as janelas, só em
algumas. Talvez seja algum costume do passado que praticamente não existe mais. Achei
interessante.
Pela placa
avisando os horários, a igreja deveria estar aberta, mas só encontrei portas
trancadas. Entrei num barzinho situado em frente à igreja e com o meu portunhol
arretado, pedi informações. O exagero de imagens invade até os botecos. Vejam
que o Cristo e as santas são onipresentes. Como é que alguém pode ousar tomar um
porre sendo observado por Nossa Senhora! ?
E tem mais.
Tirei foto da outra religião dos Sevilhanos. Esses são os seus deuses bárbaros.
São idolatrados em toda parte. O garçom me explicou que muitos deles nasceram
no bairro e freqüentam de vez em quando o lugar.
Ayuntamiento, empadillas e percebes
Agora vou
relatar como foi o final do nosso quarto dia em Sevilla. Após visitar o palácio
Lebrija, almoçar na Plaza Nueva, conhecer a casa de Pilatos, fomos correndo até
o Ayutamiento (prefeitura). O meu guia da Hachette avisava que chegando as 17:30
em ponto na terça, quarta e quinta, podíamos participar de uma visita guiada. (em
anexo, tirei foto dessas graciosas mulheres quando me dirigia à prefeitura).
Já tínhamos passado várias vezes diante das duas fachadas da prefeitura. Tem a neoclássica que fica na Plaza Nueva e que foi acrescentada ao edifício no século XIX. Agora tem a outra, a espetacular fachada renascentista situada na Plaza San Francisco.
Mesma coisa
que para as outras visitas. Éramos pouquíssimas pessoas. Devia ter umas dez no máximo. Eu sempre esperava a tropinha avançar para tirar as fotos. Fomos guiados por uma senhora severa que recitava a toda
velocidade fatos, nomes, guerras, reis e datas em castelhano. Não entendi
bulhufas, mas não tinha a menor importância. Afinal, não se aprende a historia
de uma cidade secular num espaço de poucos dias. O lugar é realmente bonito e suntuoso.
Em alguns cantos, parece que o um prédio mais novo foi construído em torno das ruínas
de outro anterior.
domingo, 29 de janeiro de 2012
Casa de Pilatos
Depois do primeiro passeio pela manha, fomos almoçar uma salada na plaza Nueva e depois fomos para a casa de Pilatos. Não falei
que havia quase ninguém visitando o palácio Lebrija? Mesma coisa para a casa de
Pilatos (palácio de san Andrés). É verdade que éramos em março e o pessoal
chega para o desfile das irmandades que acontece na época da Páscoa, em abril. Aqui foto do detalhe da pedra rendada.
Deve-se
também pelo fato que os turistas procuram os lugares mais batidos, mais comuns.
Em Veneza, fui conhecer lugares absurdamente vazios, enquanto todo mundo se
concentra na Praça San Marcos. Como se Veneza fosse somente esta praça. Aqui,
foto de uma casa vizinha, vista a partir do precioso jardim.
Mesma coisa
para Sevilha. Tem lugares impressionantemente belos como esta casa, por
exemplo, que mistura três estilos: o gótico, o renascentista e o mudejar. Parte
da família ducal Medinaceli vive ainda neste lugar. A origem do seu nome é a
seguinte: de volta de Jerusalém, Dom Fadrique instaurou um caminho da cruz entre
o seu palácio e a igreja Cruz del Campo. O caminho percorrido seria o mesmo que
separava a casa de Pôncio Pilatos do monte de Gólgota.
Aqui o
famoso amarelo sol, que sempre reencontro, dividindo espaço com antenas parabólicas...
O pátio interno
é belíssimo e possui uma fonte central. Podemos ver uma estatua grega
representando Atena. Data de 500 anos antes do Cristo!
Tudo é delicado e exageradamente decorado. Fico admirativa diante desta obra, tantos detalhes nas
paredes, nas portas, nos tetos, nos moveis. Naqueles tempos, não havia TV, radio, internet, shows,
shopping Center, cinema. O pessoal vivia ocupando as mãos e as mentes.
Sou
fascinada por esses terraços. Quem mora ali? Qual é a realidade da dona da
casa. Nem sabe que a sua moradia esta sendo observada e fotografada por uma francesa que mora no Brasil.
Os jardins são
espetaculares. Havia uma equipe de jardineiros trabalhando. A mistura de cheiros
de plantas era inebriante. Não havia barulhos urbanos, só escutávamos o murmúrio
das fontes
visitando o Palácio de Lebrija
No quarto
dia, saímos bem cedo para visitar o palácio Lebrija situado numa pequena rua não
muito longe do nosso hotel. Não foi fácil achá-lo, passamos na frente dele duas
vezes sem notá-lo. Perguntamos onde ficava, ninguém sabia dizer ou o pessoal
nos enviava para outro lugar. Meu marido impaciente queria desistir, mas
insisti e no final o encontramos. Seria uma tremenda pena se a gente tivesse
perdido a visita. O lugar é excepcional. É uma residência privada que data do século
XV de estilo mudejar.
Sei que não
havia multidões de turistas na cidade (chegam a partir de abril), mas mesmo assim, fiquei impressionada pela pouca
quantidade de visitantes. Quando chegamos, só havia nos dois. Aos poucos foram aparecendo poucas pessoas. A guia que ia nos levar até um dos andares
superiores esperou um pouco para ver se juntava mais gente. O legal disso tudo, foi que eu pude tirar fotos sem ter que esperar as pessoas sairem dos lugares que desejei fotografar.
Amei esses
ferros decorativos super trabalhados. Não descobri para que sirvam. Se alguém souber,
adoraria ler um comentário explicando.
A casa foi comprada em 1900 pela condessa de Lebrija. Ela reformou o edifico durante uns treze anos. Apaixonada por arqueologia, ela comprou uns mosaicos romanos (300 a.C.) de coleções particulares. Os mosaicos foram remontados peça por peça no piso do palácio.
E esse
amarelo solar? Sempre eu o reencontro! Eu tenho muitas paredes amarelas na
minha casa. Acho que talvez seja algo que tem a ver com a infância do meu pai,
que foi passada na África do Norte. Será? De tanto me falar do charme dos países
árabes, vai ver que acabei sendo influenciada...
E este
boteco? Não da vontade de sentar e provar os petiscos? Não parei nele porque estávamos
a caminho de outra programação. Contarei em outro post.
Leiam: especialidad en CHACINAS y carnes. Imediatamente me lembrei do crime cometido pelas protagonistas
do filme Tomates Verdes Fritos e do churrasco que veio depois!
Zumo de melocotón e Restaurante Engaña Oriza
Na tarde do
terceiro dia, continuamos andando para sentir a cidade. Era ainda cedo para
visitar os museus. Queríamos curtir somente o momento. Havia poucos turistas e
como era inicio de primavera, o calor não era muito forte ainda (durante o verão,
eu soube que é insuportável). Passear sem rumo definido, sem obrigação, tornou se uma fonte de grande
prazer. Falando em calor, vi um jovem usando uma camiseta com esta frase
imprimida no peito: E =mc² - España =muy calor². Durante as grandes
temperaturas, nada melhor do que se abrigar à sombra de um pátio. Vejam como
esse é convidativo!
Detalhes
dos azulejos na entrada do belo pátio.
Para matar
a sede e descansar os pés, paramos em vários barzinhos como este. Nunca bebi
tanta água. O meu marido sempre pedia um zumo
de melocotón (suco de pêssego).
Uma bela
fachada pintada em tom de amarelo ocre. Amarelo solar.
Mais uma paradinha
e mais um suco de pêssego debaixo das laranjeiras carregadas de frutas pesadas.
E para
terminar a noite, nada melhor do que o clássico e belíssimo restaurante Engaña Oriza
situado num prédio que data de 1926. Jantamos no charmoso jardim de inverno,
mas infelizmente, lamento muito, as poucas fotos que eu tirei ficaram cor de
rosa! Só vou postar as ostras que me foram servidas. Acho que foram as melhores
que eu já comi na minha vida! Só havia um detalhe que me incomodou muito: o fundo sonoro não combinava
nem um pouco com o lugar. Programação: Harry Connick Jr e Frank Sinatra! Em New
York, concordo, mas em Sevilha, é crime!
La Geralda e o bairro de Santa Cruz
Vamos
continuar o passeio? Na manha do terceiro dia, fui checar os meus e-mails no
business center do meu hotel. Ao meu lado havia dois velhos espanhóis tentando entrar na internet. Não entendiam de tecnologia, então os ajudei um pouquinho.
Ficaram parados diante da tabela de preços de uns apartamentos à venda. Não falo
castelhano, mas entendi tudo que diziam. Os velhos faziam uns cálculos, convertiam
os euros em pesetas, para ter uma idéia do valor. Após sair e andar um pouco pelas
ruas, descubri esta porta de garagem deliciosamente kitsch representando a
Torre de Ouro da cidade. Continuamos passeando, observando, admirando, contemplando. Tudo era tão colorido e alegre.
Ao sair da catedral, passamos pelo Pátio de Los Naranjos. Não há nada mais delicioso do que o farfalhar das numerosas arvores de Sevilha. Tentei pegar algumas laranjas, mas sendo baixa, não consegui alcançá-las. O meu marido não quis me ajudar porque, como ele diz, detesta “dar uma de brasileiro”. Pois é, virei brasileira e ele se transformou num francês chato. Mas como ja falei em outro post, eu soube depois que são extremamente amargas. Exportadas para a Inglaterra, são transformadas em geléia.
Perambulamos pelas ruelas estreitas e pitorescas.
Como a fome
apertou, paramos num bar de tapas chamado Las Teresas. Como a placa indica, data de 1870.
Servem embutidos da região de Salamanca e varios tipos de presuntos defumados. Cartazes de touradas enfeitam as suas paredes. Dentro do bar, os clientes conversavam animadamente. Falavam alto, com vozes roucas e de um jeito meio rispido. É a maneira como o pessoal se comunica de modo geral.
Sentamos numa mesa do lado de fora. Comemos este delicioso chorizo e uns filés de sardinha marinada. Tudo isso foi acompanhado de uma bela cerveja.
Não muito longe da gente, outra santa na fachada colorida nos protegia.
El Riconcillo, o bar mais antigo de Sevilha
Enquanto digito este texto, escuto o genial Paco de
Lucia para esquentar os motores. Vou continuar o relato da viagem. E lá fomos
nos, naquela tarde do nosso segundo dia, andando e andando, admirando e se
deliciando com tudo ao nosso redor. Eu feito uma criança num parque de
diversão, olhar arregalado, prestando atenção a tudo, querendo devorar a cidade
com os olhos. Noto uma vitrina com roupas para a primeira comunhão. Depois dela
vi mais e mais outras. São roupas idênticas aquelas que o meu pai e meus tios
usaram quando eram crianças nos anos 30! Até nisso eu vejo o quanto os Andaluzes
são extremamente tradicionais! Nunca vi lojas assim nas minhas andanças... Só
em Sevilha mesmo! Essas peculiaridades de cada povo me encantam!
Passando por uma pequena rua, não resisto, decido entrar no pátio de um pequeno hotel chamado Don Pedro. Apesar de que fazia certo calor na rua, dava imediatamente para sentir um frescor incrível neste lugar. As paredes guardem preciosamente toda a frialdade da sombra.
Quais foram as belas Andaluzas que já sentaram neste banco? Amei a decoração, esses pratos coloridos de cerâmica na parede imaculada...
Um dos sons de Sevilha: o das fontes dos pátios cujas cores vão do amarelo gema, do marrom terracota, do azul cerúleo, passando pelo laranja vivo, o verde musgo e toda uma variedade de outras cores quentes que acariciam o olhar...
Continuamos andando até achar um bar pitoresco. É o mais antigo de Sevilha. Chama-se El Rinconcillo e data somente de 1670. O piso de época é todo deformado pelos milhões de passos dos fregueses que ali pisaram durante séculos. Tem azulejos do chão até o teto e uma vitrina com imagens de santas chorando. Um monte de jamón com cara de ter a idade do lugar (presunto defumado) são pendurados acima do balcão. Pelo que entendi (yo no hablo castellano), uma placa avisa o pessoal para NÃO CANTAR, mas quando entrei, um homem cantarolava uma canção de flamenco enquanto um amigo batia as mãos bem baixinho.
Avistei um senhor muito idoso todo elegante sentado sozinho numa mesa e tomando um aperitivo. Ao lado do seu copo, um prato com enormes azeitonas. Eu não tirei o olho dele tentando imaginar qual tinha sido a sua vida. Era tão curvado! Pergunto discretamente ao garçom se ele é um freguês assíduo. Ele me responde que é o cliente mais antigo e que aparece todos os santos dias. O velhinho notou o meu olhar persistente, então eu me levantei e fui puxar papo com ele. Ele tinha um semblante tão triste e abatido. Deu-me vontade de dar um abraço nele.
Retornei até a minha mesa e continuei observando tudo atentamente enquanto saboreava um café expresso. Vi quando o senhor pegou uma caneta e começou a escrever algo. Depois de certo tempo, ele se levantou, aproximou se de mim e me entregou um doce bilhete! Que gracinha! Fiquei emocionada!
Terminamos o dia jantando na Casa Robles (fundada em 1954). É considerado um dos restaurantes mais tradicionais da cidade, é aonde as pessoas vão para celebrar um evento, vêm almoçar depois de um batizado, por exemplo. Não é um lugar absurdamente caro, nada disso. O lugar não é moderno, alias praticamente não vi lugares descolados. A decoração da maioria dos bares e restaurantes que conheci era rústica ou antiquada. São cantos bem autênticos que preservam as raízes, não tentam copiar o adotar o que esta na moda mundo afora. E dou graças a Deus! Estou farta de lugares descolados onde só toca música Lounge!
Vi fotos
dos príncipes da realeza Espanhola pendurados nas paredes da sala. Não anotei
os nomes, me parece que é Letizia Ortiz e Felipe de Bourbon. Pelo que comentou
o garçom, depois de eu ter feito perguntas investigativas, os príncipes jantam
às vezes no restaurante quando estão se férias em Sevilha. Eu adoro provar e
testar novidades. Vi um tal de carabinero
no cardápio. O garçom me explicou que é um tipo de camarão. Era DIVINO!
Mais uma
santa, mais uns azulejos, mais cores numa fachada. Sevilha, cidade
colorida e perfumada pelas laranjeiras, cidade luminosa, banhada de sol.
Azulejos
como rodapés, azulejos no beiral das janelas, azulejos nos muros internos e
externos e um bilhete avisando: Cierrar la puerta... Dei-me vontade de empurrar esta
misteriosa porta, dei-me vontade de abrí-la ...
Passando por uma pequena rua, não resisto, decido entrar no pátio de um pequeno hotel chamado Don Pedro. Apesar de que fazia certo calor na rua, dava imediatamente para sentir um frescor incrível neste lugar. As paredes guardem preciosamente toda a frialdade da sombra.
Quais foram as belas Andaluzas que já sentaram neste banco? Amei a decoração, esses pratos coloridos de cerâmica na parede imaculada...
Um dos sons de Sevilha: o das fontes dos pátios cujas cores vão do amarelo gema, do marrom terracota, do azul cerúleo, passando pelo laranja vivo, o verde musgo e toda uma variedade de outras cores quentes que acariciam o olhar...
Continuamos andando até achar um bar pitoresco. É o mais antigo de Sevilha. Chama-se El Rinconcillo e data somente de 1670. O piso de época é todo deformado pelos milhões de passos dos fregueses que ali pisaram durante séculos. Tem azulejos do chão até o teto e uma vitrina com imagens de santas chorando. Um monte de jamón com cara de ter a idade do lugar (presunto defumado) são pendurados acima do balcão. Pelo que entendi (yo no hablo castellano), uma placa avisa o pessoal para NÃO CANTAR, mas quando entrei, um homem cantarolava uma canção de flamenco enquanto um amigo batia as mãos bem baixinho.
Avistei um senhor muito idoso todo elegante sentado sozinho numa mesa e tomando um aperitivo. Ao lado do seu copo, um prato com enormes azeitonas. Eu não tirei o olho dele tentando imaginar qual tinha sido a sua vida. Era tão curvado! Pergunto discretamente ao garçom se ele é um freguês assíduo. Ele me responde que é o cliente mais antigo e que aparece todos os santos dias. O velhinho notou o meu olhar persistente, então eu me levantei e fui puxar papo com ele. Ele tinha um semblante tão triste e abatido. Deu-me vontade de dar um abraço nele.
Retornei até a minha mesa e continuei observando tudo atentamente enquanto saboreava um café expresso. Vi quando o senhor pegou uma caneta e começou a escrever algo. Depois de certo tempo, ele se levantou, aproximou se de mim e me entregou um doce bilhete! Que gracinha! Fiquei emocionada!
Terminamos o dia jantando na Casa Robles (fundada em 1954). É considerado um dos restaurantes mais tradicionais da cidade, é aonde as pessoas vão para celebrar um evento, vêm almoçar depois de um batizado, por exemplo. Não é um lugar absurdamente caro, nada disso. O lugar não é moderno, alias praticamente não vi lugares descolados. A decoração da maioria dos bares e restaurantes que conheci era rústica ou antiquada. São cantos bem autênticos que preservam as raízes, não tentam copiar o adotar o que esta na moda mundo afora. E dou graças a Deus! Estou farta de lugares descolados onde só toca música Lounge!
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