Mal cheguei
ao meu hotel, pedi ao pessoal da recepção fazer reserva num restaurante e
marcar um show de flamenco logo depois do jantar. Eu tinha estudado o guia e já
sabia exatamente quais eram os lugares que iríamos freqüentar. O meu marido
deixou tudo na minha mão, escolher e montar um roteiro é meu papel. Como todas as cidades muito antigas da Europa,
o centro tem ruas estreitas e na maioria delas não passam carros. Eu escolhi um
hotel situado bem no miolo, perto de tudo o que facilitou os passeios. Depois
de um passeio nos arredores do nosso hotel para sondar o bairro, averiguar
tudo, ter uma idéia do nosso novo território, e tomar um aperitivo numa pracinha,
andamos a pé até o restaurante escolhido. Chama-se Taberna Del Alabarder. É
situada num charmoso prédio do século XIX que já foi a propriedade do poeta J. Antonio
Cavestany, membro da academia real espanhola (segundo o guia). Vejam um delicado toque andaluz: o xale na janela. Pedimos pastel de berenjena, corvina com compota e
entrecot de corzo. Tudo servido com vinho da região. Depois de tomar um chá
de Poleo (menta), nos dirigimos até o Tablao El Arenal para assistir a show de
dança.
Na soleira
da porta, duas bailarinas com saias cheias de babados, xales nos ombros, pentes
e flores nos cabelos fumavam. Tinham rostos severos e traços duros. Não eram
delicadas dançarinas. Mesmo sem se movimentar, emanava delas uma força
belicosa, uma beleza agressiva. Entramos e fomos convidados a sentar numa mesa comunitária
onde já estavam outras pessoas. O tablao serve refeições e havia pessoas ainda
jantando. Os pratos eram servidos até certa hora. Depois do café iniciou-se a
apresentação. E que apresentação! Uns guitarristas posicionaram se no palco. Sentaram
numas cadeiras de palha junto de outros homens. Esses são aqueles que vão
ritmar a melodia batendo as palmas, estalando os dedos. Cada um tem a sua própria
seqüência, o seu próprio ritmo que difere dos outros. Todas essas batidas, todos
esses estalos, acabam se casando, se unindo, se encaixando para formar um só
ritmo vigoroso e contagiante.
Ao voltar andando a pé, observei um grupo de jovens mulheres sentadas no terraço de um bar. Vestiam calças jeans e calçavam botas de salto. Bebiam, fumavam (notei que o povo fuma muito) e duas delas usavam um estranho veu de noiva cor de rosa na cabeça. Eu pensei perguntar, mas não ousei. Talvez uma despedida de solteira. Quem vai saber??
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