domingo, 29 de janeiro de 2012

El Riconcillo, o bar mais antigo de Sevilha

Enquanto digito este texto, escuto o genial Paco de Lucia para esquentar os motores. Vou continuar o relato da viagem. E lá fomos nos, naquela tarde do nosso segundo dia, andando e andando, admirando e se deliciando com tudo ao nosso redor. Eu feito uma criança num parque de diversão, olhar arregalado, prestando atenção a tudo, querendo devorar a cidade com os olhos. Noto uma vitrina com roupas para a primeira comunhão. Depois dela vi mais e mais outras. São roupas idênticas aquelas que o meu pai e meus tios usaram quando eram crianças nos anos 30! Até nisso eu vejo o quanto os Andaluzes são extremamente tradicionais! Nunca vi lojas assim nas minhas andanças... Só em Sevilha mesmo! Essas peculiaridades de cada povo me encantam!
Mais uma santa, mais uns azulejos, mais cores numa fachada. Sevilha, cidade colorida e perfumada pelas laranjeiras, cidade luminosa, banhada de sol.



Azulejos como rodapés, azulejos no beiral das janelas, azulejos nos muros internos e externos e um bilhete avisando: Cierrar la puerta... Dei-me vontade de empurrar esta misteriosa porta, dei-me vontade de abrí-la ...
 


Passando por uma pequena rua, não resisto, decido entrar no pátio de um pequeno hotel chamado Don Pedro. Apesar de que fazia certo calor na rua, dava imediatamente para sentir um frescor incrível neste lugar. As paredes guardem preciosamente toda a frialdade da sombra.
 

Quais foram as belas Andaluzas que já sentaram neste banco? Amei a decoração, esses pratos coloridos de cerâmica na parede imaculada...
 


Um dos sons de Sevilha: o das fontes dos pátios cujas cores vão do amarelo gema, do marrom terracota, do azul cerúleo, passando pelo laranja vivo, o verde musgo e toda uma variedade de outras cores quentes que acariciam o olhar...
 








Continuamos andando até achar um bar pitoresco. É o mais antigo de Sevilha. Chama-se El Rinconcillo e data somente de 1670. O piso de época é todo deformado pelos milhões de passos dos fregueses que ali pisaram durante séculos. Tem azulejos do chão até o teto e uma vitrina com imagens de santas chorando. Um monte de jamón com cara de ter a idade do lugar (presunto defumado) são pendurados acima do balcão. Pelo que entendi (yo no hablo castellano), uma placa avisa o pessoal para NÃO CANTAR, mas quando entrei, um homem cantarolava uma canção de flamenco enquanto um amigo batia as mãos bem baixinho.
 
Avistei um senhor muito idoso todo elegante sentado sozinho numa mesa e tomando um aperitivo. Ao lado do seu copo, um prato com enormes azeitonas. Eu não tirei o olho dele tentando imaginar qual tinha sido a sua vida. Era tão curvado! Pergunto discretamente ao garçom se ele é um freguês assíduo. Ele me responde que é o cliente mais antigo e que aparece todos os santos dias.  O velhinho notou o meu olhar persistente, então eu me levantei e fui puxar papo com ele. Ele tinha um semblante tão triste e abatido. Deu-me vontade de dar um abraço nele.

Retornei até a minha mesa e continuei observando tudo atentamente enquanto saboreava um café expresso. Vi quando o senhor pegou uma caneta e começou a escrever algo. Depois de certo tempo, ele se levantou, aproximou se de mim e me entregou um doce bilhete! Que gracinha! Fiquei emocionada!
Terminamos o dia jantando na Casa Robles (fundada em 1954). É considerado um dos restaurantes mais tradicionais da cidade, é aonde as pessoas vão para celebrar um evento, vêm almoçar depois de um batizado, por exemplo. Não é um lugar absurdamente caro, nada disso. O lugar não é moderno, alias praticamente não vi lugares descolados. A decoração da maioria dos bares e restaurantes que conheci era rústica ou antiquada. São cantos bem autênticos que preservam as raízes, não tentam copiar o adotar o que esta na moda mundo afora. E dou graças a Deus! Estou farta de lugares descolados onde só toca música Lounge! 






Vi fotos dos príncipes da realeza Espanhola pendurados nas paredes da sala. Não anotei os nomes, me parece que é Letizia Ortiz e Felipe de Bourbon. Pelo que comentou o garçom, depois de eu ter feito perguntas investigativas, os príncipes jantam às vezes no restaurante quando estão se férias em Sevilha. Eu adoro provar e testar novidades. Vi um tal de carabinero no cardápio. O garçom me explicou que é um tipo de camarão. Era DIVINO!

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