domingo, 29 de janeiro de 2012

Tapas e flamenco nas ruas de Sevilha

Primeira metade do segundo dia em Sevilha: saímos para ter uma noção da cidade, muitas coisas estavam fechadas ou iam fechar cedo. Optamos por andar, andar e andar. Nunca andei tanto! Atravessamos a cidade do leste ao oeste e do norte ao sul. Em todos os lugares encontramos muitos azulejos decorativos, até o nome das ruas é feita deles. Vejam que linda essa imagem da famosa feria de Sevilha (azulejos, of course!) durante a qual o pessoal desfila com as roupas folclóricas.
 
Vi vários homens de idade usando barbas grisalhas bem aparadas. Tinham porte de fidalgo e podiam ser parentes do ator Fernando Rey que trabalhou nos filmes de Luis Buñuel. Eu olhava por toda parte, por cima, por baixo, à direita, a esquerda, sempre havia algo para fotografar, tudo é deliciosamente exagerado.  Encontrei  uma profusão de Cristos crucificados nas fachadas das igrejas.

Aqui um casal que apareceu do nada. Ele abriu um banquinho dobrável, sentou, tocou e ela dançou. Tinha saia empoeirada e aureolas de suor debaixo dos braços.  Em vez de usar os saltos apropriados para fazer barulho, calçava umas estranhas botinhas com sola de borracha grossa. A sua dança ficou sem o som típico. Era um sapateado mudo e sufocado pelas botas. Tentou recolher um trocado, mas não ganhou nada. Fez um gesto nervoso com a mão, era um sinal pro parceiro dobrar o banco imediatamente. Foram embora tentar a chance em outro lugar.

De tanto andar, a fome apertou. Resolvi parar num restaurante que descobri por acaso. Chama-se BACO. Recomendo muito! Havia um terraço externo com mesas cobertas por toalhas de pano xadrez vermelho. Pela grande quantidade de clientes, imaginei que devia ser um lugar servindo pratos gostos. Era! E como! Sentamos numa mesa situada no pátio interno. Pedimos varias tapas de frutos do mar. Eram di-vi-nas. Para quem não souber, as tapas são petiscos servidos a qualquer hora do dia, é uma tradição na Espanha. O pessoal come tapas na rua (os bares colocam do lado de fora uns tonéis usados como mesas), sentado, em pé, de qualquer jeito. Come um tipo de tapas num bar, um segundo em outro bar e um terceiro num lugar diferente etc. Notei muitas crianças em todos os restaurantes onde fomos. Parece que a natalidade esta aumentando na Europa. Mas não é só isso. Imaginei o que devia ser: lá é muito caro contratar uma baba, só os mais ricos podem. Como o povo espanhol é muito familia e adora ficar na rua, eles acabam levando os filhos junto com eles.  Contei pelo menos quatro nenéns de colo no pátio interno do BACO e perto da gente vi um menino loiro trajando estranhas roupas: um shortinho de veludo cinza com suspensórios de tirolês e sapatinhos de verniz vermelho. A indumentária do pessoal de lá é bem diferente, contarei
à medida que eu for escrever outros posts.
 
Os três tipos de lojas que encontramos em toda parte são os seguintes: lojas de cerâmicas e azulejos, lojas de artigos religiosos, já que o povo é extremamente católico e praticante e lojas de roupas folclóricas que são usadas nos desfiles durante a famosa feria de Sevilha quando inicia se o período das famosas touradas.  Aqui o rosto de uma santa numa vitrine.



Voltamos a andar depois do almoço. Ao chegar na lindíssima praça del Salavador, decidimos entrar na igreja do mesmo nome. Apesar de estar repleta de imagens fortes, como a cabeça cortada de São João Batista pintada por Sebastián de Llanos Valdés (1670), não senti a tristeza que me invade normalmente quando noto obras morbidas. Do lado de fora havia um sol radiante que, filtrado pelos vitrais, jogava umas alegres manchas coloridas na parte interna. Fui dar um pulo no banheiro onde encontrei esta curiosa pia em forma de pai batismal. Acima dela, mais azulejos!
Do lado de fora, uma santa com azulejos coloridos (já falei, estão por toda parte) e um buquê de flores frescas. Era um dia de domingo e a praça estava lotada de pessoas. A escadaria frontal da igreja estava repleta de jovens bebendo e fumando. Havia muita sujeira, umas latas amassadas e cigarros espalhados em todos os degraus. No dia seguinte não vimos mais nada. Tudo estava bem limpo. Alias a cidade é bem cuidada, bem mantida. Não vi sujeira e nem mendigos. Minto, vi uns dois e eram ciganos portadores de deficiências físicas. Fora isso não vi nada, nem drogados e nem pessoas esquisitas. A cidade é bem tranqüila e provinciana. Não tem o cosmopolitismo e a agitação de Barcelona e gostei disso. A gente pode andar de noite sem sentir medo.  
Babados, babados e mais babados. Por todos os lados, nas bolsas, nas roupas e até nos sapatos!

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