sábado, 28 de janeiro de 2012

Tablao El Arenal - Sevilha


Mal cheguei ao meu hotel, pedi ao pessoal da recepção fazer reserva num restaurante e marcar um show de flamenco logo depois do jantar. Eu tinha estudado o guia e já sabia exatamente quais eram os lugares que iríamos freqüentar. O meu marido deixou tudo na minha mão, escolher e montar um roteiro é meu papel.  Como todas as cidades muito antigas da Europa, o centro tem ruas estreitas e na maioria delas não passam carros. Eu escolhi um hotel situado bem no miolo, perto de tudo o que facilitou os passeios. Depois de um passeio nos arredores do nosso hotel para sondar o bairro, averiguar tudo, ter uma idéia do nosso novo território, e tomar um aperitivo numa pracinha, andamos a pé até o restaurante escolhido. Chama-se Taberna Del Alabarder. É situada num charmoso prédio do século XIX que já foi a propriedade do poeta J. Antonio Cavestany, membro da academia real espanhola (segundo o guia). Vejam um delicado toque andaluz: o xale na janela. Pedimos pastel de berenjena, corvina com compota e entrecot de corzo. Tudo servido com vinho da região. Depois de tomar um chá de Poleo (menta), nos dirigimos até o Tablao El Arenal para assistir a show de dança.
 
Na soleira da porta, duas bailarinas com saias cheias de babados, xales nos ombros, pentes e flores nos cabelos fumavam. Tinham rostos severos e traços duros. Não eram delicadas dançarinas. Mesmo sem se movimentar, emanava delas uma força belicosa, uma beleza agressiva. Entramos e fomos convidados a sentar numa mesa comunitária onde já estavam outras pessoas. O tablao serve refeições e havia pessoas ainda jantando. Os pratos eram servidos até certa hora. Depois do café iniciou-se a apresentação. E que apresentação! Uns guitarristas posicionaram se no palco. Sentaram numas cadeiras de palha junto de outros homens. Esses são aqueles que vão ritmar a melodia batendo as palmas, estalando os dedos. Cada um tem a sua própria seqüência, o seu próprio ritmo que difere dos outros. Todas essas batidas, todos esses estalos, acabam se casando, se unindo, se encaixando para formar um só ritmo vigoroso e contagiante.

Chegou a vez dos bailarinos e das bailarinas entrarem. Essa dança é magnífica e violenta. Os pés ágeis proporcionam um ritmo diabólico graças aos clap! clap! do alucinante sapateado. As mulheres parecem furiosas e os homens simulam um ódio mortal por suas parceiras. Antes de dançar, cada mulher canta, ou melhor, lamuria, chora, se desespera, se descabela. São Lamentos guturais. De vez em quando os músicos soltam umas frases faladas, não sei bem o que significa, talvez seja para encorajar a bailarina ou a cantora, talvez seja uma resposta aos seus prantos. Os bailarinos possuem a cintura arqueada de toureadores. Levantam os braços como quando el matador enfia a sua espada no pescoço do touro. Parecem brigar com as Carmen. Essas franzem as sobrancelhas e jogam uns olhares raivosos para os seus amantes tão detestados. Foram as minhas impressões daquela noite anotadas num papel do hotel. 

Ao voltar andando a pé, observei um grupo de jovens mulheres sentadas no terraço de um bar. Vestiam calças jeans e calçavam botas de salto.  Bebiam, fumavam (notei que o povo fuma muito) e duas delas usavam  um estranho veu de noiva cor de rosa na cabeça. Eu pensei perguntar, mas não ousei. Talvez uma despedida de solteira. Quem vai saber??

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